terça-feira, 25 de agosto de 2015
CARROSSEL - O FILME (Brasil, 2015). Direção: Maurício Eça & Alexandre Boury.
Lançada originalmente em 1989, em 375 capítulos, pela emissora mexicana Televisa, e exibida pelo canal brasileiro SBT dois anos depois, a telenovela “Carrossel” tornou-se um dos maiores sucessos estrangeiros a serem exibidos no País. Após algumas tentativas frustradas de regravar a referida telenovela (o pasticho “Carrossel das Américas”, por exemplo, produzida em 1992, mas exibida no Brasil somente em 1996), a mencionada emissora brasileira foi bem-sucedida ao convocar um desenvolto elenco infantil para reavivar os célebres personagens da teledramaturgia mexicana.
Dois anos após o término da telenovela, este longa-metragem chega às telas, trazendo de volta a quase integralidade do elenco original, sendo a exceção mais notável Rosanne Mulholland, que interpretava a professora Helena, mas que, por cláusulas contratuais envolvendo uma emissora concorrente, não pôde participar do filme. De início, o maior problema desta produção é não ser prontamente acessível para quem desconheça os dados componentes deste intróito. Ou seja, “Carrossel – O Filme” (2015) talvez não seja muito fluente para quem não tenha afinidade com os personagens, visto que seu roteiro apressado não é cuidadoso na apresentação dos mesmos, parecendo apenas estar dando continuidade a um capítulo inacabado.
Entretanto, perante a obviedade das situações que compõem a trama, isto não é de todo prejudicial, pelo menos não tanto quanto os vícios lingüísticos televisivos de Alexandre Boury, que dirigira, no passado, alguns execráveis longas-metragens protagonizados por Renato Aragão [entre eles, os horripilantes “Didi, o Cupido Trapalhão” (2003) e “Didi Quer Ser Criança” (2004)].
Não obstante a condução directiva do filme ser automática e o roteiro de Márcio Alemão e Mirna Nogueira ser propositalmente banal, a simpatia do extraordinário elenco infanto-juvenil torna este filme deveras apreciável, mesmo frente ao seu cabedal de problemas formais: os espontâneos Larissa Manoela (Maria Joaquina), Nicholas Torres (Jaime Palillo), Lucas Santos (Paulo Guerra) e Matheus Ueta (Kokimoto) fazem com que assistir a este filme pareça tão divertido quanto deve ter sido realizá-lo, inclusive no que tange à despretensiosa imitação de clichês combativos que foram explorados em ‘Esqueceram de Mim” (1990, de Chris Columbus), imitação esta que é assumida pelos próprios personagens numa dada cena.
Ainda que alguns atores infantis sejam sobremaneira desenxabidos [Stefany Vaz (Carmen Carrilho), Guilherme Seta (Davi Rabinovich) e Thomaz Costa (Daniel Zapata)], as situações protagonizadas pelas crianças são espirituosas e abundantes em humor brejeiro – conforme se percebe na cena em que a romântica e comilona Laura Gianolli (Aysha Benelli) corteja um rapazola por quem parece estar apaixonada e, de chofre, furta o seu sanduíche parcialmente comido [risos].
As situações advindas do ciúme que a hiperativa e cafona Valéria Ferreira (Maísa Silva) sente por seu namorado Davi, entretanto, são enfadonhas e contaminadas pela mesma verve deletéria - no sentido moral do termo – que sobejava nas produções anteriormente dirigidas por Alexandre Boury, tal qual se percebe na ridícula composição da personagem nordestina Graça (Márcia de Oliveira). Mas nada que a excelente caracterização estereotipada do vilão interpretado por Paulo Miklos não contrabalanceie!
Se, por um lado, a trilha musical é atravessada pelos arroubos equivocados de modismos fonográficos contemporâneos [a tendência ‘rapper’ da convocatória matinal do velhinho Sr. Campos (Orival Pessini) que o diga!], por outro, ela remodela de maneira minimamente interessante os chavões benfazejos sobre a amizade as diversões inocentes de outrora.
As colaborações de Bruna Caram e Erika Machado nas canções que aparecem incidentalmente são efetivas na manifestação encomiosa deste parecer geral sobre a trilha musical, que tenta beneficiar-se da percussividade somática na execução do efusivo tema “PanaPaná” ao final. Dentro das convenções aborrecidas dos filmes infantis, portanto, estas características de “Carrossel – O Filme” não soam demeritórias, de maneira que, em comparação com inúmeros exemplares hollywoodianos assemelhados, esta produção nacional é assaz exitosa.
Pode-se reclamar que, numa avaliação estrita de suas potencialidades cinematográficas, “Carrossel – O Filme” demonstre-se preguiçoso, ainda que possua esmerados efeitos visuais (vide o incêndio na lagoa, por exemplo) e seja beneficiado pelo carisma de pré-adolescentes tão eloqüentes quanto a belíssima Fernanda Concon, que interpreta a esperta Alícia, aquela que convida os amigos para as férias num acampamento florestal, o que engendra as confusões do parco enredo. O ponto de partida competitivo entre as equipes roxa e laranja – que, por vezes, irrompia na tela sob a forma de telas divididas – é resolvido de maneira ladina quando os concorrentes põem a amizade acima de qualquer disputa e unem-se na causa comum pela salvação do acampamento em relação às ações vilanazes de empreiteiros que desejam transformar a região num parque industrial.
Não é um filme memorável, mas, dentro de perspectivas específicas de vendabilidade afetiva, ele é funcional em sua pretensão de emular uma “fábrica de saudades”. Ganha pontos em sua efetividade mercadológica tupiniquim, por conseguinte!
Wesley Pereira de Castro.