sexta-feira, 16 de outubro de 2020

UMA QUESTÃO PESSOAL (2017, de Paolo & Vittorio Taviani)


 

Em 15 de abril de 2018, o cineasta italiano Vittorio Taviani faleceu, aos 88 anos de idade. Em seu último filme, aparece creditado apenas como roteirista, mas é sabido que foi também co-diretor, visto que era profissionalmente indissociável de seu irmão Paolo, ao lado de quem erigiu uma das mais poéticas trajetórias do cinema europeu. A verve antifascista, recorrente em todas as suas obras, era comumente atravessada pelo realismo mágico. Em seu testamento fílmico, o pasticho histórico instaurou-se: há a denúncia reconhecível da desumanização advinda da guerra, mas a doença que, há muito tempo, lancinava um dos irmãos cineastas parece ter interferido no resultado…




Na trama, Luca Marinelli – premiado com um Globo de Ouro local por este papel – chega a ser tachado de feio pela rapariga por quem é apaixonado. Fluente no idioma britânico, ele recebe o apelido de Milton, que o acompanha por toda a vida. Aprecia literatura e música anglofílicas, e compartilha esta paixão com seu amigo Giorgio e sua amada Fulvia. Até que a II Guerra Mundial separa os companheiros: Fulvia parte para uma cidade mais segura, Milton entra para um movimento de resistência, e Giorgio adere ao fascismo.




Não obstante o automatismo dramático e o ritmo um tanto novelesco – bastante assemelhado ao do telefilme "Paixão e Pecado", que os diretores realizaram em 2004 – reconhecemos o esforço autoral (e sobretudo político) dos irmãos Taviani em seqüências isoladas, como o fuzilamento de um garoto e o desfecho reflexivo, em aberto. É um filme inferior a qualquer outro desta insigne dupla fraterna, mas não totalmente desprezível: em tempos sombrios como os nossos, é urgente referendar que fascismo não é um mero apanágio nacional, mas um atestado de suma malevolência. Vittorio Taviani [1929-2018], obrigado por tudo!



Wesley Pereira de Castro. 

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