À primeira vista, um documentário de uma hora e quarenta minutos de duração sobre a primeira equipe olímpica de voleibol no Japão, dirigido por um francês, parece um filme cansativo, não é? Procede, mas no sentido literal do adjetivo: ao ouvirmos as jogadoras idosas, hoje em dia, comentarem a rotina diária de trabalho matinal numa fábrica de algodão e treinos esportivos que começavam no período vespertino e iam até a madrugada, o espectador fica imediatamente cansado. Mas o filme é surpreendentemente delicioso!
Muitíssimo bem montado, dirigido e musicado, este relato sobre uma história de superação grupal incrivelmente pouco conhecida seduz-nos pelo modo esperto como concatena as imagens de desenhos animados celebratórios, imagens de arquivo dos eventos narrados, depoimentos contemporâneos e canções 'indie' maravilhosas, como "Machine Gun" (do Portishead) e "Honour When We Leave", composta especialmente para o filme por Jason Lytle, vocalista da banda Grandaddy. É difícil não se emocionar com a seqüência em que as jogadoras explicam os seus apelidos e com a tensão erigida durante a final das Olímpiadas de 1964. O modo agradecido com que elas referem-se ao rigoroso treinador Hirofumi Daimatsu [1921-1978] é absolutamente enternecedor. Mesmo quem não gosta de esportes pode lacrimejar sem culpa!
Oportunamente lançado num ano em que as Olímpiadas coincidiram de estar novamente sediadas em Tóquio (os jogos deveriam ter ocorrido em 2020, mas foram transferidos para 2021, mantendo o logotipo original), este documentário pode ser avaliado sob múltiplos primas: seja pelo viés exortativo da emancipação feminina, seja pelo elogio emocionado à capacidade de auto-reconstrução dos japoneses, após os ataques violentos durante a II Guerra Mundial. Pesquisador especializado no assunto, o diretor Julien Faraut torna mui aprazível e divertido o percurso documental. Torcemos juntos pelas garotas da fábrica e contentamo-nos ao percebê-las reunidas depois de tanto tempo, exercitando-se com vigor numa academia de ginástica e brincando com seus netos. Um vitorioso exemplo de reerguimento comunitário e uma poderosa demonstração de que a lógica desportiva vai muito além do que ocorre dentro das quadras!
Wesley Pereira de Castro.
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