A montagem do filme obedece à progressão cronológica de um único dia, e acompanhamos um grupo de personagens aleatórios (uma noiva que desiste do casamento no dia da cerimônia, um rapaz que deambula pela praia, as pessoas que amontoam-se diante de uma mesquita, uma mulher enciumada que reclama das escapadas sexuais de seu marido), enquanto as locutoras da estação de rádio titular recitam poemas e executam canções. No momento mais poético, o bailarino Domingos Bié (já falecido, conforme verificamos nos créditos finais) dança ao som de alguns versos do escritor Ungulani Ba Ka Khosa, que exalta a necessidade da resistência africana: "estes homens da cor de cabrito esfolado que hoje aplaudis entrarão nas vossas aldeias com o barulho das suas armas e o chicote do comprimento da jibóia". A mensagem é fortíssima!
Nem todas as seqüências são tão expressivas, entretanto: algumas são meramente casuais, porém dotadas de inequívoca beleza, como naqueles instantes em que uma moça arruma-se diante do espelho, no cair da noite, complementando o ciclo de eventos que possivelmente desembocará - por causa do machismo dominante na sociedade - nos dizeres preconceituosos que ouvimos dos transeuntes ébrios no início do filme. Enquanto consolo, algo que ressoa poderosamente na transmissão: "através da Arte, podemos identificar o diagnóstico para as doenças da alma". Procede, muito obrigado pela rememoração!
Wesley Pereira de Castro.
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