terça-feira, 20 de outubro de 2020

EM NOME DE CRISTO (1993, de Roger Gnoan M'Bala)


 

Servindo-se de uma premissa alegórica para denunciar os interesses escusos de falsas religiões, o roteiro de "Em Nome de Cristo" apresenta-nos a um cuidador de porcos que, ao fugir de uma acusação de roubo, tem uma alucinação profética: depara-se com uma entidade infantil que o rebatiza como Minhaglória I e convence-o de que ele é primo de Jesus Cristo. De volta à sua aldeia, ele seduz as pessoas que antes humilhavam-no e proclama um novo conjunto de mandamentos, que substitui aqueles constantes no Evangelho. Primeiro ditame: “amai a Minhaglória I e multiplicai”…


Lendo a Bíblia de cabeça para baixo, este pseudomessias anuncia a implantação da “ditadura de Deus”: declara o adultério como algo sagrado, é bem-sucedido na obtenção de parcelas consideráveis das colheitas alheias e reage com hostilidade a quem duvida de sua santidade. Ordena que sejam queimados todos os fetiches locais, num país onde predominam as variações do animismo, mas carrega consigo bustos de madeira que imitam a efígie branca tradicionalmente associada a Jesus Cristo. Está evidente a quem direciona-se a crítica?


Enquanto um dissidente reclama que Minhaglória I reproduz a cegueira e a loucura típicas do colonialismo, ele define-se como um baobá inerradicável, e teme perder a pujança de seu falo, tendo recorrentes sonhos de castração. O desfecho não ignora o ciclo de falso convencimento que associa a existência de pobres e ricos no mundo ao pretexto da necessidade de equilíbrio. Quem domina a arte de manipular a fé, converte-se em mito!


Wesley Pereira de Castro. 

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