O título do filme possui uma dubiedade benfazeja: remete, intradiegeticamente, à xícara favorita de Carla (María Jesús Gonzaléz), que bebe café nela, mesmo podendo cortar-se na aba quebrada. Metaforicamente, o que está irremediavelmente quebrado é o seu casamento, de modo que a constante presença de seu ex-marido nas cercanias de sua residência instaura um clima opressivo de quem insiste em consertar o que não tem mais jeito. Neste sentido, a corajosa entrega de Juan Pablo Miranda ao seu inconveniente personagem, o teimoso Rodrigo, é mui aplaudível: chegamos a odiá-lo e temê-lo, mas eventualmente identificamo-nos com o seu desamparo carente, com a sua persistente esperança de que pode fazer com que Carla apaixone-se novamente por ele, com a mesma facilidade que ele consegue colar a xícara supracitada...
Trata-se, portanto, de um filme claustrofílico porém centrífugo, que extrai energia do confinamento desejoso, malgrado haver uma seqüência externa (justamente, a do açougue). As três primeiras situações em que a direção de fotografia adere ao enfoque quadricular - quando Carla atende ao telefonema do obstinado protagonista, quando ele interroga o filho acerca do novo namorado da mãe e quando Rodrigo esforça-se para ejacular na cama de sua ex-esposa, depois de não conseguir manter a ereção debaixo do chuveiro - são primorosos, dotando o filme de toda a pujança concernente ao que convencionou-se chamar de "relacionamento tóxico". Pena que, depois da briga previsível que eclode quando Máxi (Moisés Angulo) volta para casa, a direção renda-se a um desenvolvimento quase televisivo da narrativa. Mas é um filme que instiga e perturba - e talvez desencadeie alguns traumas espectatoriais!
Wesley Pereira de Castro.
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