A sinopse deste filme vai direto ao ponto, em suas pretensões subgenéricas: três profissionais corruptos, associados a um mesmo partido político, passam a noite bebendo, transando e utilizando drogas num motel, até que começam a desconfiar uns dos outros, depois que uma garota de programa (Lorena Anderáos) aparece morta na banheira de hidromassagem. Trata-se de um ponto de partida tarantiniano, que antecipa várias das referências cinefílicas adotadas pelo jovem realizador, que, em sua estréia em longas-metragens, também acumula as funções de co-roteirista, diretor de fotografia e montador. Obviamente, os personagens serão atormentados por situações advindas dessa noitada. Nos créditos finais, a canção "Eu Sei que Ele Foi", da banda Clima (cujos componentes Kiko Dinucci e Rodrigo Campos são responsáveis pela trilha musical), descreve as conseqüências 'gore' de quem sucumbe à prepotência toxicomaníaca: "do que é que ele morreu? Desperdício/ Onde foi que ele morreu? No hospício"...
Construído de forma espertamente assimétrica, o roteiro de "Ménage" possui três estereótipos machistas em conflito: Veiga (Lino Camilo) é aquele que não gosta de utilizar camisinhas, louva as estratégias balísticas do coronelismo alagoano, e teme ser assassinado pelos dois companheiros de orgia; Roberto (Francisco Gaspar) é o mais estouvado, acostumado a espancar as prostitutas que direciona às pessoas que deseja chantagear; e Ariel (Vinicius Ferreira) é o deputado paranóico, que acredita estar sendo vigiado e perseguido por todos ao seu redor. Termina correspondendo à figura humana que nomeia a canção supracitada: "eu sei que ele foi sem ter ido".
O segmento protagonizado por Ariel, depois que ele volta à sua rotina de trabalho, destaca-se em relação às demais seqüências: emulando situações que ocorrem no trecho final de "Os Bons Companheiros" (1990, de Martin Scorsese), este personagem inala enormes quantidades de cocaína, enquanto desloca-se pela cidade de Belo Horizonte, pondo em prática os conchavos que aprendeu com seus correligionários. É o favorito à (re)eleição, pois aparenta ser um "homem de bem", o que reitera a crítica um tanto automática do enredo aos representantes políticos, costumeiramente desacreditados pela população. A despeito de alguns atropelos rítmicos, o filme é hábil ao exortar seus cacoetes de estilo, sendo deveras ágil e moralmente dúbio. É um diretor em quem devemos prestar atenção, portanto!
Wesley Pereira de Castro.