É interessante como a polissemia de algumas palavras é estrategicamente adotada no roteiro do filme: que o diga a imbricação de sentidos entre o título - que é também o nome da comunidade - e a abordagem panorâmica efetivada pelo realizador. O que sabemos sobre aquelas pessoas provém do que elas nos contam, através de diálogos permeados pela observação de fotografias antigas e pelos desenhos de plantas arquitetônicas rudimentares das moradias idealizadas. Quando verificam a abundância de andaimes ao redor, dois amigos comentam sobre o que será construído ali, com base nos rumores circundantes: "estas são as especulações"!
Malgrado a relevância dos discursos e a pungência dos testemunhos sobre reabilitação e resistência espacial e identitária ("dizem que não existimos, mas estamos aqui"), o documentário não é bem sucedido ao emular, via montagem, as noções comunitárias levadas a cabo pelos moradores entrevistados. Ficam os bons exemplos do homem que, na infância, via o seu avô medir diuturnamente o espaço em que residiam e dos versos tronchos porém sinceros da banda de 'hip-hop' Realidade Humana, cujos membros lutam para continuarem dignos, no que tange às condições de moradia, empregabilidade e recondicionamento social. O que o filme nos mostra é valioso, ainda que as seqüências funcionem muito mais isoladamente (vide a festinha de aniversário que acontece num determinado momento) que em sua concatenação enquanto longa-metragem. Afinal, favela é espaço de harmonia em meio ao desequilíbrio!
Wesley Pereira de Castro.
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