Uma das críticas mais recorrentes às religiões, por parte de argumentadores politizados, diz respeito ao modo como inculca-se a idéia do "é assim porque Deus quer" ou "se não aconteceu, é porque não tinha de ser". Por detrás desta aparência de determinismo, compreendemos que há uma noção de respeito, uma crença. Como religioso, partilho deste tipo de concepção...
Pois bem: ansioso que estava com a virtualização da Mostra Tiradentes neste ano, tencionava fazer uma cobertura "profissional" via 'blog', mas meu anseio caiu por terra: meu computador simplesmente não carrega. Não era para ser? Sigamos com as minhas considerações facebookianas sobre os filmes vistos, então...
Ontem mesmo, tão logo acabou a sessão deste documentário baiano, pensei em escrever algo sobre ele, mas estava incomodado com uma dualidade intensificada no desenvolvimento de seu enredo: o que vemos é a compreensão comunitária de uma tradição ou a submissão a um devaneio fetichista, altamente capitalizável? Tanto um aspecto quanto o outro. Não excluem-se. Mas outro problema instaurou-se: a formatação sumamente narrativa da montagem do filme.
Faz tempo que borrar as pretensas fronteiras entre ficção e documentário deixou de ser algo polêmico. Entretanto, os vai-e-véns da edição incomodaram-me particularmente. Pois, além de a câmera não ser ostensiva (em termos de reações diegéticas à presença da mesma), os blocos dialogísticos são entrelaçados em diferentes teias temporais: a conversa enquanto se pinta um portão, a compra de uma boneca numa loja de brinquedos e a audição de recados via WhatsApp, por exemplo. Há uma estória sendo contada.
Ao mesmo tempo, quando essa estória atinge o seu pico (a celebração de aniversário da personagem-título, uma entidade perenemente infantil), tudo ocorre de maneira anticlimática, pois há a invasão de elementos destoantes de tudo o que testemunhamos até então. A cadência pacata é soterrada pelos clichês comemorativos da cidade grande. Temos certeza de quem paga pela cara coleção de bonecas, a partir deste momento...
A despeito de qualquer aparente reprimenda, o filme é muito gracioso em sua exposição religiosa deveras acessível. Seu caráter é inegavelmente popular, o que deve-se bastante à pesquisa da co-roteirista Marília Cunha. Mas meus preconceitos aquisitivos continuaram interferindo na apreciação qualitativa do filme. O debate é mais que necessário, portanto!
Wesley PC>
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