Quem, assim como eu, adentrar a sessão deste filme aguardando um prolongamento do filme anterior da dupla de diretores, MUITO ROMÂNTICO (2016), talvez decepcione-se. Ou aceite o desafio de mergulhar num percurso distinto, quiçá mais telúrico, naturalista. Por motivos óbvios, pensei no cinema de James Benning: há o céu ofertado à contemplação, os planos-seqüências contados a dedo, os personagens isolados e à deriva...
Sendo um trabalho de continuidade autoral, em certo sentido, esperava-se um destaque concedido à Música. E ela surge de maneira fascinante, ainda que sob o jugo de certa ambigüidade: uma mocinha rica (e branca) canta uma espécie de 'rap' sobre a necessidade de deixar alguém ir... "A vida é muito curta para chorar pela ex/ Eu falava para mim mesmo, enquanto chorava outra vez", canta e repete a mocinha!
De acordo com os créditos finais, os referidos planos foram filmados em locais e anos distintos: um em Barcelona, outro em Santa Catarina, etc.. Fica-se a tentação imediatista de reclamar de algum efeito de incoesão, mas uma variação ainda mais emocional do "efeito Kuleshov" concatena as situações e pessoas apartadas. Quem é quem? Qual a relação de um com o outro? Por que eles estão ali? Eis o filme agindo...
Como esta produção era o grande chamariz da edição deste ano da Mostra, as expectativas depositadas sobre ela eram altíssimas. Como tal, decorre a impressão de insatisfação mediante a subversão das mesmas. Mas talvez isso seja um aspecto genial da obra: não entrega o que esperávamos, mas algo completamente novo, numa tradição distinta. É um filme curto e confortável. Balsâmico até. A tristeza emulada num dos cantos passa junto com as nuvens... A beleza fica, bem como a vontade dos encontros.
Wesley PC>
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