segunda-feira, 7 de junho de 2021

Transcrições facebookianas sobre a Mostra Tiradentes 2021 : ABJETAS 288 (2021, de Júlia da Costa & Renata Mourão).


 

Para nós, amantes sergipanos do Audiovisual, a estréia do curta-metragem ABJETAS 288 (2021, de Júlia da Costa & Renata Mourão) na Mostra Tiradentes 2021 era um evento mais que especial. Afinal, os bons rumores acerca desse filme eram ouvidos faz tempo. E muitas das pessoas envolvidas na produção são competentes e mui generosas. Logo, acho ótimo que o filme seja tão valorizado desde o seu pontapé inicial de publicização: passei o dia inteiro ansioso. Acabei de vê-lo. Gostei. Chegou a hora de esboçar algumas reações...


Num primeiro momento, chama a atenção a esperteza das diretoras ao investir numa dublagem que sobrepõe e distorce as vozes dos personagens, que utilizam termos regionais em meio aos seus brados contra o cerceamento comportamental. A tônica é assumidamente antitética: é uma ficção científica que admite elementos brejeiros, mixados numa perene trilha musical de cariz eletrônico. Por vezes, parece um videoclipe influenciado por motes do Chris Marker ou do Peter Greenaway. A montagem é frenética e a percussividade somática justifica as idas e vindas de um enredo que finge teleologia, mas resvala na ausência de destino. Busca-se um lugar, mas o percurso sobrepõe-se. Como de praxe, as mulheres precisam resistir a um corpo policial violento e mui preconceituoso. Os encontros são fugidios e desconfiados. A lombra é essencial!



Evidentemente, problemas também são identificáveis: algumas interpretações soam desengonçadas (com exceção de um rapaz bruxuleante, quase todos os coadjuvantes entram nessa categoria), os rompantes abruptos da montagem nem sempre conseguem obliterar as lacunas do roteiro e o título poderia ser ainda mais explicitado, a fim de validar a importância distópica desta obra na conjuntura atual. A bonita fotografia em preto e branco, a alucinada direção de arte e o figurino inventivo compensam aquilo que parece vago ao longo da projeção. Como sói acontecer em reflexões sobre o futuro, o presente importa bastante. O que as diretoras mostram acontece hoje!



Aparentemente, as atrizes principais não dispuseram de muito tempo para a composição de suas personagens, mas entregam-se vigorosamente às mesmas. Há uma cena de mijada num ponto de ônibus que merece ser exaltada por sua imponência resistente. Para além de todas as imperfeições, o curta-metragem corresponde bem às nossas expectativas: empolga-nos ao provar que é possível fazer o que se quer, a despeito das tonitruantes forças em contrário. Nesse embate, o afeto e o risco vencem!



Wesley PC> 


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