A abertura remete a "Nostalgia" (1983, de Andrei Tarkovski): o ambiente iluminado por velas, a “Ave Maria” schubertiana na trilha musical, o plano longo e contemplativo, onde encontramos o protagonista num ambiente nevado, a observar a conversão geológica do infinito. Mas logo o filme muda de perspectiva: após os créditos iniciais, instala-se uma busca que será desenrolada até o último fotograma, cuja resolução é indistinta, em meio à neblina…
A despeito do flerte inicial com a espiritualidade, a perquirição levada a cabo pelo protagonista é telúrica, profissional: é difícil identificar o que está sendo mostrado, mas, de acordo com a sinopse, acompanhamos um diretor de cinema, que percorre espaços ermos em busca de locações para seu próximo filme. O tema do mesmo é assaz pretensioso: uma investigação sobre o Universo, a partir da consciência do Homem enquanto força organizadora. A fim de compreender aquilo com que se depara, o diretor tenta aprender o idioma local enquanto come, aprecia as canções que ouve no rádio. Mas perder-se-á no vazio da incomunicabilidade…
Como era de se esperar, a fotografia do filme é deslumbrante. Ruínas históricas – identificadas como do século XI – são percorridas pelo cineasta, que é impregnado pela aura religiosa dos ambientes. Mas a espiritualidade é interditada, de modo que, em sua amplitude solitária, o filme parece advogar a misantropia. No afã por compará-lo a algum título semelhante, podemos encontrar alguns pontos de contato com o longa-metragem brasileiro "Fendas" (2019, de Carlos Segundo), sobre uma professora de Física quântica que, quanto mais mergulha em sua esotérica pesquisa, mais descobre sobre si mesma, deparando-se até mesmo com um inusitado pretendente romântico. Na pesquisa do personagem armênio, o que manifesta-se é desencontro e vazio. Os ruídos provavelmente balísticos que ouvimos na seqüência derradeira confirmam: não haverá a redenção prometida na abertura. Exceto, talvez, enquanto (re)interpretação pós-fílmica!
Wesley Pereira de Castro.
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