Primeiro longa-metragem de seu realizador, este filme refuta qualquer traço de exotismo que vem à mente quando pensamos nos cinemas indianos. Ostentando uma atmosfera de suspense que remete – em termos ambientais – ao sul-coreano O LAMENTO (2016, de Na Hong-Jin), ele possui um desenvolvimento narrativo radicalmente distinto: por cerca de 1h10’, vemos o protagonista Rajeev Anand perambular em círculos numa região montanhosa, em busca de mais informações sobre um furo jornalístico que recebera. Supostamente, houve um terremoto na região. Mas ninguém fala sobre o assunto, de modo que a destruição mencionada por sua fonte não é externamente visível…
Praticamente sozinho ao longo de toda a jornada - encontra uma ou outra pessoa no caminho, mas estas recusam-se a conversar muito - o protagonista sequer é nomeado: sabemos apenas que ele é jornalista. Vestido em moldes ocidentais e evidenciando um comportamento tipicamente cosmopolita de classe média, ele dirige por lugares desabitados, em busca de informações sobre a tragédia de que fôra informado. Mas nada encontra, para além das inúmeras suspeitas acumuladas. Não há psicologização ou imersão nas convenções de gêneros narrativos tradicionais. Em linhas bem gerais, é um filme sobre um repórter em busca de uma notícia. Em sentido específico (levando-se em consideração as nuanças éticas associadas), também!
Ao final da sessão, sabemos pouco mais que o jornalista, visto que a perspectiva tramática permite-nos um quociente infinitesimal de onisciência. Na trilha musical, que flerta com o jazzismo, nota-se uma evidente homenagem a “Peer Gynt”, cuja emulação do tema sinfônico de Edvard Grieg traz à tona comparações hipercodificadas em relação à obra teatral homônima de Henrik Ibsen. No derradeiro diálogo da peça, alguém comenta: “nós nos encontraremos na última encruzilhada, e então veremos se... Eu não direi mais nada”. É mais ou menos o que ocorre com o protagonista deste filme…
Wesley Pereira de Castro.
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