Apesar de filmado numa região inóspita da Mongólia, o que mais chama a atenção nesta obra mui singela é a naturalidade com que aborda um tema caro às filmografias orientais, o conflito entre tradição e modernidade assimétrica. Sem precisar recorrer aos discursos politicamente redundantes, a diretora atinge méritos altissonantes em sua profissão mui orgânica de valores ecológicos: no desfecho, a canção que justifica o título do filme emociona-nos sobremaneira. Há uma denúncia contundente sendo realizada, em meio ao estratagema da simples estória de amadurecimento filial...
O protagonista do filme é um garotinho de doze anos de idade, magnificamente vivido pelo carismático Bat-Ireedui Batmunkh: chamado Amra, seu cotidiano é bastante parecido com os de seus colegas de escola. Vive numa região rural, com uma família de origem nômade. Passa boa parte do tempo brincando com seu telefone celular, o que faz com que temam que ele fique com a "vista quadrada". Sua mãe prepara queijos e seu pai envolve-se comumente em querelas contra a exploração mineradora na planície onde habita. O sonho de Amra é participar de um concurso local de talentos. Até que ele obtenha êxito, novos desafios surgirão...
O roteiro destaca-se pela naturalidade com que aborda as situações: a rotina da família Erdene, as reuniões de moradores, as atividades escolares, tudo isso é apresentado de maneira cúmplice, como se a diretora não apenas fizesse parte daquele contexto rural, mas fizesse questão de compartilhar aquela quietude conosco, a fim de que militemos conjuntamente contra a destruição ambiental perpetrada pela exploração capitalista. A letra da canção que Amra canta, em homenagem ao seu pai, é exemplar neste sentido: insiste que "o ouro só traz sofrimento". As veias do mundo seguem abertas!
Wesley Pereira de Castro.
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