No início deste curta-metragem, uma bailarina (Lyna Khoudri) corre pelas ruas parisienses, atrasada para uma audição. Ela está com seu filho Jay (Naïm El Kaldaoui), febril e ansioso para entregar um presente para o seu pai, que está em férias. No afã para participar da seleção de um espetáculo de dança contemporânea, ela tenta justificar o seu atraso pelas condições relacionadas à doença do garoto, a despeito da irritação das demais bailarinas, que já estavam na fila. Curiosamente, o diretor do espetáculo percebe a sensibilidade do menino, compartilhando consigo a mensagem embutida na alegoria filosófica que serve de base para a apresentação que ensaia. Novamente nas ruas, agora sozinho, Jay põe em prática o que aprendeu, concedendo a deixa para que JR exercite a sua inventividade visual, na aplicação de fotografias expandidas em paredes onde se proíbe a colagem de cartazes...
Deveras simpático naquilo que deseja demonstrar - a constatação de que "não é possível libertar-se sozinho" e o contraponto entre imagens que, em seu caráter ilusório, são contempladas ao mesmo tempo em que se percebe que estamos aprisionados por grilhões reais -, este curta-metragem aproveita a efígie carismática do garotinho para, numa animação, conclamar os transeuntes a retirarem o véu da proibição dos espaços pelos quais transitam. Sob o olhar concordante do criativo realizador Leos Carax, Jay faz com que a exortação platoniana não permaneça confinada no palco onde está sendo apresentado o supracitado espetáculo "Chiroptera", musicado por Thomas Bangalter (integrante da dupla eletrônica Daft Punk). No desfecho, a própria tela em que vemos este filme é rasgada pelo ato libertador da criança. Diretora e artista foram exitosos na transmissão conjunta de seus respectivos discursos, portanto!
Wesley Pereira de Castro.