segunda-feira, 7 de junho de 2021

Transcrições facebookianas sobre a Mostra Tiradentes 2021 - seção Aurora - dia 06: O CERCO (2020, de Aurélio Aragão, Rafael Spínola & Gustavo Bragança).


 

Enquanto proposta, este filme é incrível: um mergulho em primeira pessoa numa atmosfera de horror classista, que apela para a memória histórica nacional. A atriz Liliane Rovaris é mui expressiva, e demonstra estar plenamente sintonizada em relação ao projeto. Nos créditos finais, uma informação relevante: "colaboração no roteiro: o elenco". A sinopse acostada é excelente, em sua explicitação da lógica fantasmática. Por que o filme soçobra, então? Por causa do sobejo de divergências espectatoriais?



Assumirei a minha culpa: como, aqui no Nordeste, a brincadeira do Marco Polo não é comum, achei o filme presunçoso desde a abertura. Adorei a dinâmica incestuosa das brincadeiras adolescentes dos irmãos Lopes, mas torci o nariz quando uma voz em 'off' disse que teve "um pesadelo... surreal"!



A insistência da atriz-personagem (ou personagem-atriz?) em utilizar frases chavonadas como "o teatro é maior que a vida" incomodou-me também. Ela surge num palco, recitando o monólogo de um clássico bergmaniano oitentista. Mais à frente, a trilha musical incidental de outro filme do cineasta sueco é reconhecida. Os diretores não escondem as suas referências. Nem tampouco as suas condições privilegiadas de observadores culturais. A luta contra a ditadura militar é emulada de maneira sincera, mas também atravessada por condições sociais assaz determinadas, não condizentes com a maioria da população brasileira. É um filme de nicho, portanto. Isso procede?



Se, por um lado, a leitura das cartas e depoimentos sobre a descrição de torturas e desaparecimentos políticos emociona, por outro, a protagonista queda cada vez mais insuportável, ainda que dotada de uma firmeza resistente anacrônica. Pouco a pouco, ela percebe-se vigiada e perseguida. Recebe vídeos com gravações no interior de sua própria residência, tal qual já vimos em filmes célebres de Michael Haneke e David Lynch. O desfecho será climático? Muito pelo contrário, e disso gostei bastante!



Por que este filme não funcionou comigo se, quando isolo seus componentes, parece tudo muito interessante? Justamente porque a mistura pareceu troncha, desenxabida, elitizada (num sentido ruim do termo). Mas a curiosidade pelos projetos vindouros dos responsáveis por esta obra sumamente colaborativa segue atiçada. Hmmmmmm!



Wesley PC> 


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