segunda-feira, 7 de junho de 2021

Transcrições facebookianas sobre a Mostra Tiradentes 2021 - seção Aurora - dia 03: ROSA TIRANA (2020, de Rogério Sagui).


 

Pouco antes da sessão, eu estava com dor de cabeça. E não sei em que sentido esta cefaléia interferiu em minha apreciação do filme. Afinal, ele é curtinho, possui uma cadência infantil em sua narrativa fabular, a fotografia é muito bonita... Por que eu não gostei, então?


Pouco a pouco, percebo que gostar ou não gostar de uma obra - sobretudo num contato inicial - é o de menos. Enxergá-la com afeto, prestar atenção aos seus recados sub-reptícios, defender o seu direito de existência no delicado panorama exibitório do cinema brasileiro: eis o que é importante! Mas, mesmo isso, torna-se difícil aqui. Achei o filme deveras incongruente...


Na abertura, algo chamou-me a atenção: a seqüência de créditos iniciais dura exatos três minutos, e conta com uma música terna (composta em parceria com o próprio diretor), que será cantada por Elba Ramalho a posteriori. Este anúncio evidencia a perspectiva religiosa do filme, filmado no município interiorano de Poções, na Bahia. O personagem de José Dumont lamenta que "faz cinco janeiros que não chove". Ainda assim, floresce... 


A Rosa do título é uma garotinha interpretada por Kiarah Rocha, muito simpática, que resolve sair sozinha de casa, disposta a encontrar Nossa Senhora Imaculada. Apesar de ela rezar todas as noites, ao lado da mãe, a impressão é a de que a Santa não ouvia as suas preces. Por isso, ela tenciona entregar pessoalmente uma flor vermelha que brotou no sertão. E, no caminho, deparar-se-á com figuras típicas do imaginário local: retirantes que arrastam-se em meio ao barro; um coronel que não esconde seus desejos pedofílicos, ao insistir que "bonecas também comem"; um grupo de artistas mambembes, que anima a garotinha numa festa súbita, com algodão doce e tudo. Ôba!


Tinha tudo para ser um filme encantador, não é? Bem feitinho como o diacho! Mas o padrão é de seriado da TV Globo: mui qualitativo, em termos técnicos, porém desprovido da essência sertaneja que celebra. O que é curioso, já que a equipe pertence àquele ambiente, compreende as necessidades daqueles moradores. Por que não funciona? Talvez por ser excessivamente 'for export'!


Espero não estar difamando injustamente um filme que pode gozar de boa comunicação com o público. Para mim, pareceu muito cansativo. No encerramento, a seqüência de créditos da abertura é repetida, do mesmíssimo jeito. A flor foi entregue, ao menos: alguém duvidou que a chuva cairia?


Wesley PC>


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