Quando este filme, roteirizado pela própria diretora, oferta-nos o que é prometido no título (uma reconstituição de época acerca das revoltas de aldeões palestinos contra a dominação britânica em seu país, a partir do ano em pauta), o enredo é minimamente interessante, dentro de sua adesão às convenções narrativas de cariz hollywoodiano. Porém, isto não é suficientemente defendido: como a realizadora é nascida em Belém, no território palestino, ela opta por esperadas conclamações políticas - boa parte delas, a cargo de personagens femininas, o que é mui defensável -, mas isto acontece sob um viés tão esquemático quanto publicitário: para fazer com que o público simpatize automaticamente com a causa palestina, elabora-se um estratagema maniqueísta, que depende de um vilão unidimensional e crudelíssimo, o capitão Wingate (Robert Aramayo), que rapidamente torna-se alvo da fúria espectatorial, e, assim, aspectos históricos merecedores de reflexão são negligenciados...
Ao trazer para o primeiro plano enredístico situações que ecoam o que ainda acontece na Palestina - o que demonstra-se escandaloso, na manutenção remunerada de quase cem anos de extrema injustiça contra os habitantes locais -, este filme, infelizmente, opta por clichês inautênticos, que nos distanciam do que ele deseja contar, ao invés de validar a nossa imediata (e pretendida) adesão emocional. Pensemos no recurso equivocado das seqüências em câmera lenta, na utilização de uma trilha musical xaroposa e na concepção pouco aprofundada de personagens potentes naquilo que poderiam desempenhar: o esforçado Yusuf (Karim Daoud Anaya), que trabalha como motorista para um importante morador de Jerusalém; o garotinho Kareem (Ward Helou), que aprenderá a atirar, depois de testemunhar o assassinato de seus parentes, mesmo interagindo freqüentemente com um padre cristão; e a escritora Khuloud (Yasmine Al Massri), que precisa utilizar um codinome masculino para poder publicar seus artigos no jornal de seu esposo, Amir (Dhafer L'Abidine). Ao invés de explorar a contento os dramas interligados destes personagens locais, a diretora desperdiça interesse discursivo ao confundir a perspectiva do filme com a piedade influente do secretário inglês Thomas (Billy Howle), depois que testemunha os extremos maus tratos a que os palestinos são submetidos pelas decisões coloniais...
A utilização recorrente de imagens de arquivo colorizadas e animadas através de Inteligência Artificial exteriorizam uma insuficiente confiança da diretora nos aspectos históricos do período retratado, insistindo em manipular exageradamente os eventos abordados no roteiro, anteriores ao estabelecimento forçoso do Estado de Israel, em 1948, mas já antecipando as suas mazelas, em razão do financiamento sionista, que contou com infiltrados palestinos, traidores de sua própria nação. Preocupada em conformar o seu longa-metragem a toda pompa exigida pelas superproduções épicas norte-americanas (cenas de sofrimento, fotografia opulenta, aproveitamento chamativo das paisagens locais), Annemarie Jacir, que já possui uma carreira consolidada, age como diretora estreante, indecisa quanto aos seus propósitos e pusilânime em sua envergadura política, conforme fica evidente nos diálogos quase chistosos em sua tautologia, como quando, numa festa, ao faltar energia elétrica, alguém reclama que "os rebeldes querem nos lembrar dos aspectos ruins da sociedade" ou quando, ao justificar a publicação de textos favoráveis à progressiva dominação judaica no território palestino, Amir diz que aquilo "trata-se apenas de opiniões e palavras", como se fosse algo desimportante. No desfecho, a câmera detém-se num 'close-up' nos pés de uma adolescente que corre, enquanto alguém toca uma gaita de fole, nos créditos finais. É um tropo imagético que desperta alguma revolta em nós, diante do absurdo que é esta guerra contemporânea, convertida em genocídio, mas não é suficiente para tornar autêntico um projeto fílmico que parece encomendado por outrem, sem a devida empolgação. Vide a reles participação de Jeremy Irons como um político britânico, que não quer que o periga acontecer na Palestina daquele período, no que tange aos conflitos populares - fingidamente religiosos em alegação institucional - torne-se algo parecido com o que já ocorria na Irlanda. É bem pior, infelizmente!
Wesley Pereira de Castro.


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