Não obstante viver numa comunidade muçulmana, Yuni freqüentemente é vista sem o véu e conversa naturalmente sobre sexualidade com as amigas. Tenta até mesmo masturbar-se, pois sabe que atingir o orgasmo nas relações sexuais praticadas durante o casamento é incomum. Após certa relutância, nota que um garoto do seu colégio é apaixonado por ela, mas ele é sobremaneira tímido. Até que a poesia começa a aproximá-los: por estar atraída por seu professor de Literatura, chamado Damar (Dimas Aditya), e ter interesse em ingressar na faculdade, Yuni precisa melhorar as suas notas nesta disciplina, única do currículo escolar em que não possui muita afinidade. O tímido Yoga (Kevin Ardillova) é um exímio leitor, mas tem dificuldades em expressar o que sente. No desfecho, caberá a Yuni a decisão mais difícil de sua vida, para a qual receberá pleno apoio de sua progressiva família.
Muito bem interpretado e dirigido, este filme agrada pelo modo gracioso com que desenvolve os dramas das jovens indonésias: insistentemente cortejadas desde a adolescência, elas estão prestes a serem testadas se são virgens, a fim de permanecerem estudando, conforme ouvimos numa notícia de jornal, segundo proposta do Ministério da Educação daquele país. Parece esdrúxulo, mas é o que acontece quando religião e política se misturam. Mergulhada em sua obsessão monocromática, que a converte numa cleptomaníaca eventual, Yuni tem a oportunidade de experimentar um flerte erótico com Yoga. Porém, ao flagrar seu professor numa situação constrangedora, é submetida a um árduo dilema, sendo que o roteiro não envereda pelo melodrama, respeitando o frescor lascivo da protagonista. Um filme tão bonito e sensível quanto os vários poemas de Sapardi Djoko Damono [1940-2020] que são lidos ao longo da narrativa, e a quem a diretora dedica o seu filme!
Wesley Pereira de Castro.
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