quarta-feira, 24 de novembro de 2021

O QUE VEMOS QUANDO OLHAMOS PARA O CÉU? (2021, de Aleksandre Koberidze)


Em dado momento, na passagem da primeira para a segunda parte do filme - pouco diferenciáveis -, o narrador define o tempo como implacável, enfatizando a quantidade exorbitante de animais que morreram em incêndios criminosos de reservas florestais. O modo como o tempo passa no filme, entretanto, é modorrento: apesar de haver protagonistas bem definidos, figurantes e partes do corpo humano chamam a atenção da câmera de maneira demorada, sobretudo crianças obcecadas por futebol, a ponto de pintarem o nome de um jogador argentino, com tinta amarela, em suas costas despidas. Até mesmo os cachorros torcem pela seleção argentina - o que difere são os lugares em que eles assistem aos jogos!


Boa parte do que acontece nas duas horas e meia de duração deste filme tem a ver com a empolgação gerada pela Copa do Mundo no plácido cotidiano georgeano. É onde uma fábula romântica acontece: um casal encontra-se por acaso, após um esbarrão, e marcam um encontro. Entretanto, isso incomoda um espírito malévolo, que despeja uma maldição sobre eles: a garota, que é estudante de Farmácia, acordará transformada noutra pessoa e sem lembrar o que estudou na Faculdade. O mesmo acontecerá com o futebolista por quem ela se apaixona. Coincidentemente, ambos buscarão trabalho na mesma região, ao redor de um bar ignorado por seus freqüentadores: o novo Giorgi (Giorgi Bochorishvili) tentará convencer os transeuntes de uma ponte a pendurarem-se num trapézio ou comerem biscoitos num tempo estipulado; à nova Lisa (Ani Karseladze) caberá a tarefa de preparar sorvetes. Será que eles apaixonar-se-ão novamente?


Sabemos que sim, e tudo ocorre da maneira prevista, mas o filme sabota as expectativas espectatoriais possivelmente criadas: no início, fechamos os olhos antes da maldição acontecer e, quando o reencontro é reconhecido como tal, os personagens desaparecem em suas rotinas e o narrador informa que muitas outras historietas estão ocorrendo naquele lugar. O que interessa ao realizador são os pequenos eventos, as relações inicialmente fugazes, a banalidade do que ocorre diariamente - e que importa bastante para quem vivencia, para quem sente. Como eixo interno, uma diretora cinematográfica que busca um sexteto ideal de casais, a fim de rodar o seu filme. O ritmo é lento, as ações são casuais, as metáforas desportivas são abundantes: há quem aprecie, portanto! 



Wesley Pereira de Castro. 

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