sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Mostra SP 2024: ÁRVORES QUE EU ME LEMBRO (2024, de Erhan Tuncer)


Por não ser um diretor estreante, chama negativamente a atenção, neste drama turco, a frouxidão com que a câmera é segurada em seqüências em não há muita movimentação, como no instante em que Bahar (Hande Dogandemir) e Mahir (Erdem Kaynarca) conversam durante um piquenique, servindo-se da comunicação através da linguagem de sinais: se algo muito interessante ocorre diante da tela, o excesso de tremeliques no enquadramento prejudica a imersão do espectador, num filme que também padece do excesso de pretensões roteirísticas... 


Demoramos a perceber que a narrativa é contada de trás para a frente, e este efeito possui uma intenção definida, no modo chocante como é revelado, afinal, o porquê da desoladora insatisfação de Bahar em relação à gravidez que carrega. O desfecho é impactante na exposição de uma disfunção familiar amplamente anunciada, que impregna todos os personagens, levando-os a mencionar a possibilidade de suicídio em mais de uma oportunidade: Bahar, por causa dos traumas relacionados aos "muros" afetivos erigidos por seu pai, que não aceitava que ela tivesse escolhido cursar Comunicação Social na universidade; Mahir, pela condição de paraplégico, decorrente de um desentendimento entre amigos, após uma manifestação política; e Cemal (Istar Gökseven), pelas dificuldades no trato afetivo com seu filho, que reage com rispidez ao seu zelo protetoral. 


Outro problema que denuncia a imaturidade estilística do realizador Erhan Tuncer é a construção dramatúrgica dos diálogos: as conversas entre os personagens são longas e demarcadas pelas sofridas lembranças de infância e/ou juventude, mas o arremedo bergmaniano não faz jus à referência célebre, pois, até que consigamos redefinir as noções de causa e conseqüência, invertidas na montagem alinear, a animosidade externada pelo trio central soa um tanto forçada. Os instantes que justificam o título poético são graciosos  e os atores são competentes, mas a lentidão rítmica e os caprichos directivos nos distanciam da pujança emocional intentada. É um filme que talvez funcione melhor numa revisão, ciente da lenta concatenação de ressentimentos mnemônicos. Eis o desafio!


Wesley Pereira de Castro. 

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