Armugán é conhecido na região montanhosa de Aragão, na Espanha, como uma espécie de "doula do fim da vida", ou seja, alguém que fica ao lado de idosos que estão prestes a dar seus últimos suspiros, ajudando-os a morrer. O diretor evita a espetacularização desta função, e não mostra em detalhes o que Armugán faz, convida-nos a imaginar, através de uma narrativa sobremaneira lenta. Até que, depois de um banho, Ánchel pronuncia um ditado solene, que será repetido numa situação posterior: "existem somente duas coisas que não se pode contemplar sem piscar, o sol e a morte". É a deixa para que o filme mude o seu ritmo no terço final, quando uma mulher que vive numa região urbana aparece, pedindo para que o personagem-título a ajude a acabar com o sofrimento de seu filho doente. Um dilema moral pouco vigoroso é estabelecido entre eles: ficamos sabendo que Amurgán, tendo crescido num hospício, ama ter sobrevivido à vida, enquanto Ánchel, que trabalhara como executor de cuidados paliativos para pacientes terminais, "odeia a vida, mas ama os vivos"!
Malgrado a cadência arrastada do ritmo fílmico, a bela fotografia em preto-e-branco e o premiado acompanhamento musical de Juanjo Javierre mantêm o fascínio do espectador em razoável equilíbrio, o mesmo sendo dito acerca da aparência exótica de Armugán, que, além de ser portador de nanismo, possui uma deficiência evidente em seus membros inferiores. Quando a mãe desesperada entra em cena, a montagem do filme fica confusa, 'flashbacks' recentes se misturam à lentidão até então rigorosamente desenvolvida e o desfecho previsivelmente em aberto perde o interesse, que é compensado por uma seqüência epifânica em que vários membros da equipe observam algo num vale: a vida, em sua simplicidade orgânica e enquanto manancial duradouro de aspectos contemplativos, ultrapassa sublimemente as deficiências tramáticas. Aprendemos algo, afinal!
Wesley Pereira de Castro.
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