"Essa é a coisa mais estúpida que vou fazer em minha vida estúpida", diz o diretor-personagem, num dos vídeos antigos que compartilha. Infelizmente, este laudo avaliativo aplica-se muito bem, enquanto metonímia, ao documentário atual, um compêndio de flertes ideologicamente hipócritas (sem que se perceba, muitas vezes) que talvez sirva enquanto contraexemplo moral, confirmando em via invertida a declaração messiânica que o diretor profere ao revisitar suas imagens de adolescência. Se este filme serve para mudar a vida de alguém, talvez o faça através do jargão "não façam isso em casa". Horrendo do início ao fim!
Há diversos momentos-chave que atestam o quão problemático - no pior dos sentidos - é este filme: o reencontro forçado entre Aluã e sua mãe, que é confrontada violentamente quando tenta eliminar rancores antigos, é um dos mais evidentes, mas faz-se mister destacar um pronunciamento pseudo-solene que hipertrofia o perigo oximoriano deste título. Com uma garrafa de uísque servindo como microfone, é perguntado a um dos integrantes da trupe Inútil qual o objetivo do grupo. O jovem Aluã responde: "acabar com toda ambição". Segundos depois, na atualidade, o mesmo Aluã afirma: "para realizar nossos sonhos, vale a pena fazer qualquer coisa". Pausa dramática, onde ri-se para não chorar de desespero.
Se o filme demonstra-se absolutamente execrável em todos os seus aspectos (moral, discursivo, técnico, etc.), ao menos ele esforça-nos por apresentar-nos à trajetória de um grupo espirituoso de amigos, cujos destinos obedeceram às pré-determinações do Capitalismo: o carismático filho de um policial que morre num confronto com a Polícia; um pai de família que chora ao lembrar que, "no Dia dos Pais, embalava o presente mas não tinha para quem entregar"; alguns 'rappers' que esquecem os próprios versos enquanto cantam; e o diretor-narrador, que assume que esteve depressivo no auge de sua carreira. Ao menos, ele tentou?!
Wesley Pereira de Castro.
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