Os mergulhos surgem como elemento recorrente na trama: logo no início, de brincadeira, Maya é empurrada no fundo da água por sua melhor amiga Jana (Mia Giraud). Após uma conversa sobre desejos platônicos, ambas pulam de um penhasco, obtendo a atenção de um grupo de rapazes que nadava ao lado. Após algumas frustrações pessoais, este mesmo penhasco - onde os jovens costumam reunir-se, na improvisação de luaus etílicos - servirá de cenário para uma tragédia anunciada. No desfecho magistralmente em aberto, o ato inicial é invertido: agora é Maya quem tenta afundar Jana, num exercício de natação na escola em que ambas estudam. O ciclo nem sempre fecha: é assim com quem sobrevive à adolescência!
Muito desenvolta em seu estilo naturalista de direção, Dina Duma evita as imagens gratuitas de choque ou a comiseração forçada. Ela põe-se ao lado da protagonista, e tenta compreender os comportamentos arredios e a sua timidez induzida. Mui inteligentemente, ela evita os maniqueísmos típicos desta faixa etária: trata com muita compaixão até mesmo quem exerce funções que, segundo as convenções do gênero dramático, seriam vilanescas. A diretora observa e compartilha as suas impressões, mas não há julgamento, e sim o esforço pelo entendimento e o reencontro com as lembranças traumáticas. Neste sentido, o título é muito certeiro, pois vai além dos modismos nomenclaturais da contemporaneidade. Diz respeito ao que poderia aplacar o desamparo da protagonista (e, porventura, também dos espectadores): em sua assertividade narrativa, é um filme-manifesto!
Wesley Pereira de Castro.
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