segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Mostra SP 2021: CAPITÃES DE ZAATARI (2021, de Ali El Arabi)


Mesmo quem não aprecia futebol sentir-se-á bastante tocado pela sensibilidade com que o jornalista egípcio Ali El Arabi converte a história de dois refugiados sírios num documentário sobre a importância dos objetivos lúdicos no enfrentamento rude do dia a dia. Fawzi Qatleesh e Mahmoud Dagher são melhores amigos e ambos são exímios futebolistas. A diferença de idade entre eles é de apenas um ano, mas isso surge como impedimento inicial para que Fawzi seja selecionado para um treino decisivo no Qatar. Mahmoud vai sozinho, apreensivo e deslumbrado. Até que uma nova oportunidade permitirá o reencontro entre eles, que será televisionado e transmitido para os seus familiares, que estão no enorme campo de Zaatari, na Jordânia... 


De curta duração (apenas 73 minutos), este filme acerta ao equiparar o seu enfoque ao modo um tanto ingênuo como os dois amigos enxergam o mundo. Evita-se, portanto, as mensagens grandiloqüentes: "o que os refugiados precisam é de oportunidades, não de pena", diz Mahmoud, numa entrevista. Mas é difícil ter sonhos quando a realidade parece tão irremediavelmente opressora: ciente de que a educação pode assegurar um futuro melhor à sua família, Fawzi insiste para que sua irmãzinha Rose aprenda Inglês, enquanto pensa numa maneira de trazer seu pai para o local onde eles estão. Quando isso acontece, descobre-se que o pai dele está gravemente doente. E, no primeiro jogo profissional de que participa, o time de Fawzi e Mahmoud sofre uma goleada de 6 x 0! 


No crédito de encerramento, o diretor agradece aos rapazes que filmou tratando-os como amigos. Este é, ostensivamente, o tema do documentário: a força do companheirismo. Mesmo quando estão separados, Fawzi e Mahmoud conversam diariamente, exceto quando a internet fica indisponível no campo de refugiados ou quando possíveis namoradas requisitam atenções particulares. Na primeira parte do filme, o diretor obtém belíssimos enquadramentos crepusculares, com os meninos à contraluz, que são gradualmente substituídos por planos mais abertos, solares. "Se eu precisar voltar ao campo de refugiados, me dedicarei bem mais aos estudos", proclama Fawzi, que torna-se um esforçado treinador local de futebol. É uma conquista razoável, que comprova que a esperança dos rapazes não foi vã. Isso ilumina, transmuta em ganhos palpáveis o que é metaforizado pela ótima direção de fotografia!



Wesley Pereira de Castro. 

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