segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Mostra SP 2021: LUA AZUL (2021, de Alina Grigore)


Antes de ser diretora, Alina Grigore era atriz - e fica evidente que este é seu trabalho de estréia: apesar das boas intenções de seu roteiro, que demonstra o quão exploradas e maltratadas são as mulheres no interior romeno, a execução é um tanto desengonçada e repetitiva. A diretora confia bastante em seu elenco, mas as situações são forçadas e os diálogos improvisados de maneira pouco espontânea. A câmera na mão nem sempre consegue captar os arroubos previsíveis de raiva e as conversas entre os parentes soam pouco verossímeis no modo como reiteram eventos ocorridos há muitos anos - vide a frustração de Irina (Ioana Chitu) ao ter sido esmurrada por seu primo Liviu (Mircea Postelnicu) quando afogava-se num lago, na pré-adolescência, ou o conselho assustado do senhor que insiste para que uma jovem que admirava a lua saísse da sacada, pois ela caíra dali aos três anos de idade...


Se, por um lado, o filme é sobremaneira esforçado ao apresentar alguns comportamentos machistas que, como exclama um determinado personagem, parecem provenientes da Idade Média, por outro, as relações entre todas aquelas pessoas soam muito artificiais. Vide a insistência da mãe de Irina em declarar que um diploma de graduação não serve para nada, as confusões e tramóias em que Liviu se mete por não saber ler, a mal-explicada relação amorosa que Viki (Ioana Ilinca Neacsu) tenta esconder de seus parentes, e as brigas persistentes que ocorrem diante dos turistas que fazem as suas refeições na hospedaria gerida pela família disfuncional de Irina. Para piorar, os quiproquós envolvendo o professor casado por quem ela aparece se apaixonar - ou em quem projeta a sua possibilidade de ir para a Universidade, em Bucareste - são tolos. Os diálogos do filme são imprecisos, vagos!


Talvez o grande problema desta produção esteja na maneira apressada com que a diretora tenta enfatizar a opressão subempregatícia de Irina, já que ela obviamente não é remunerada: o filme inicia-se com uma seqüência abrupta e mui barulhenta, na qual a protagonista é despertada subitamente, a fim de substituir algum de seus familiares, que não cumpriu uma das atividades diárias de hotelaria. Esse ritmo frenético pretende ser mantido ao longo de todo o filme, mas os atores titubeiam, parecem confusos aos externarem as suas falas. Quando podemos ouvir adequadamente os dois lados de uma contenda (o instante em que Irina e seu tio conversam sobre a necessidade de aquecer um galinheiro para proteger os pintinhos recém-nascidos, por exemplo), o enredo ganha em interesse e empatia, mas quando mostra Irina reagindo com absurda naturalidade aos constantes espancamentos públicos de Liviu, ele demonstra-se pouco contundente. Que o diga a obviedade da seqüência em que ele quebra o telefone celular dela: faltou organicidade num relato que se pretende tão denuncista quanto naturalista!


Wesley Pereira de Castro. 

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