sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Mostra SP 2021: MAR INFINITO (2021, de Carlos Amaral)


O visual do filme é muito bonito, mas, infelizmente, as pretensões de ficção científica não engrenam, o mesmo sendo dito acerca dos questionamentos existenciais dos personagens: emocionalmente ocos, empregaticiamente nulos e relacionalmente opacos, o casal protagonista destaca-se pela beleza física, mas seus circunlóquios extenuam-nos rapidamente. "Encontre-me depois do mar infinito", diz ela. Ele, por sua vez, tem um sonho recorrente em que nada (e/ou se afoga). E daí?


Não sabemos direito quem é Miguel (Nuno Nolasco), mas sabemos o que ele quer, obsessivamente: realizar uma viagem interplanetária. Quando conhece a misteriosa Eva (Maria Leite) à beira de uma piscina, pergunta se ela trabalha, ao que ela responde negativamente. Diante da mesma pergunta, Miguel diz "mais ou menos": ele passa muito tempo diante da tela de um computador que decodifica sinais. "É hipnotizante", concordamos com Eva, mas tal função perde-se numa autotelia rítmica similar aos diálogos, que reapresentam as mesmas frases de formas distintas, ao longo do filme. Trata-se de uma narrativa tão cíclica quanto previsível em seu redemoinho pretensamente filosófico... 


Apesar de seus bolsões roteirísticos, o filme consegue manter-se prazenteiro durante a incitação da espera: quando consente que Eva o ensine a dormir, os sonhos de Miguel tornam-se mais claros, e ele vê-se interagindo com um colono espacial (Pedro Galiza), que morre de maneira misteriosa. Pitorescamente, este é um dos poucos personagens do filme que trabalham: os outros dois são o pai de Miguel, que é eletricista, e o preparador de lanches de rua, que também sofre de insônia. Em conversas que não delimitam a contento a função interativa de Ricardo (Paulo Calatré), Miguel e Eva tergiversam acerca da senhora que permanece solitária, numa mesa ao lado deles. Pensam em convidá-la para cear consigo, mas nunca o fazem: basicamente, eis o que o filme provoca em relação à nossa afeição!



Wesley Pereira de Castro. 

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