sábado, 23 de outubro de 2021

Mostra SP 2021: LUZ NATURAL (2021, de Dénes Nagy)


O grande chamariz deste filme é anunciado em seu título, a esplendorosa fotografia, que consegue homogeneizar quase todos os elementos em razão do uniforme cáqui dos soldados húngaros. Eventualmente, há um facho ígneo ou algum raio de sol poente cruzando a tela - e enchendo-a de breve esplendor - mas a tônica dominante é a monocromia, que encontra uma poderosa rima no olhar perenemente apático do protagonista Semetka (Fernec Szabó). Quando ele decide assumir as emoções, é tarde demais: é-lhe permitido que ele volte provisoriamente para casa, e o filme acaba!


O tema do enredo, mais uma vez, é a desumanização programada e necessária à continuidade da guerra, de maneira que a conversão das pessoas em meras máquinas de tortura e assassinato é um ganho funcional, um efeito previsível. Em âmbito social, entretanto, as ações são devastadoras: morre-se por falar a verdade, por estar num lugar aleatório, por tentar ingerir um pouco de leite, por ter nascido num determinado país, etc.. O ritmo do filme é sobremaneira comedido, e não traz nenhuma novidade acerca do que já vimos noutras obras: é mais um olhar devastado perambulando pelas horríveis situações da II Guerra Mundial...


Aqui, acompanhamos os feitos equivocados de uma tropa inexperiente da Hungria, que é direcionada à União Soviética, a fim de encontrar inimigos infiltrados. Não há maiores explicações sobre quem são estes inimigos, mas eles precisam ser encontrados e destruídos - e quem estiver no caminho morre também! Como de praxe nos entrechos sobre qualquer guerra, a iminência de estupros e agressões é ubíqua, de modo que os comandantes são impotentes na tentativa de refrear os instintos ferozes de seus comandados. A narrativa é esparsa e a trilha musical é discreta, quase ausente. No mais relevante dos encontros, um amigo (e superior) de Semetka explica como seu cachorro foi morto por um urso: é um diálogo breve, mas que valida o roteiro pela crença no poder afetivo do relato!


Wesley Pereira de Castro. 

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